terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Construtores de Gaitas de Foles

José Joaquim Martins Preto nasceu em Freixenosa, a 25-06-1966, é professor de História no ensino Secundário. A forma como decorreu a sua aprendizagem na arte de construir as gaitas de foles em Freixenosa, foi mais ou menos idêntica à de Alexandre Feio como músico. É auto-didacta, mas também recebeu ensinamentos e concelhos dos mais experientes construtores. Passo agora a citar na primeira pessoa, partes do seu trajecto na qualidade de construtor de gaitas de foles:

“Ainda criança acompanhei nos bailes, festas da aldeia e de um modo geral festejos públicos de carácter popular tradicional e cerimónias religiosas com o toque da gaita-de-foles. Um vizinho meu que era construtor: o Tiu Luís Rodrigues de quem me recordo desde a minha infância, e com quem ia ter nos meus tempos livres. Onde ficava a observa-lo enquanto ele se entregava à construção e afinação das suas fraitas (flautas pastorís) e gaitas de foles. Isto despertou em mim desde muito cedo a vontade e a coragem, para fazer gaitas de foles.

Aos 15 anos construí a primeira ponteira. O Tíu Luís Rodrigues facultou-me algumas ferramentas e certos ensinamentos, o que me motivou ainda mais para a construção da primeira ponteira. O problema surgiu posteriormente ao necessitar da palheta, recorri ao gaiteiro Alexandre Feio, que também era meu vizinho, com o intuito de ele me mostrar e facultar uma palheta. Vendo a minha obra, aprovou a construção da ponteira. Depois de lhe colocar a palheta e percorrer a escala, com a sua dedilhação elogiou-me, muito admirado com a obra, e de seguida perguntou-me: - i fuoste tu que la faziste? rematando seguidamente: -só tem um buraco que num stá mui bien, mas deixa-la que you te la purparo, com esta observação do mestre gaiteiro e de grandes ligações que havia entre as nossas famílias o meu entusiasmo cresceu.

Posteriormente com 27 anos quando concluí a licenciatura em História, regressei à minha terra, para exercer a minha profissão. Nesse período dediquei-me ao estudo das gaitas de foles tradicionais no Planalto Mirandês, retomei a tarefa, de construção, efectuando um trabalho de investigação e recolha a partir de fontes etnográficas do museu da Terra de Miranda, em Miranda do Douro. O Dr. Mourinho que na altura era o director do museu, facultou-me os instrumentos para eu efectuar as respectivas medições. Também estudei outros instrumentos dispersos pelo planalto mirandês, aos quais foram realizados estudos e retiradas medidas milimétricas, cópias e comparações de vários instrumentos.

No desenrolar deste estudo, envolvi alguns amigos que sabiam do meu entusiasmo, interesse e que me apoiaram, como o Tiu Manuel Paulo Martins de Vale de Mira (gaiteiro e construtor) ao qual agradeço o contributo, por me ter emprestado a primeira gaita-de-foles para reproduzir e demonstrou sempre grande empenho em transmitir e divulgar o que sabia fazer e tocar. Desta forma criamos uma grande amizade, quando ele construía uma gaita, era eu que lhe curtia as peles.

Seguindo o modelo autodidacta, comecei a construir o primeiro exemplar de gaita-de-foles na linha de construção tradicional, tendo realizados estudos e feitas cópias de vários modelos e comparações de diversos instrumentos tradicionais”.

Será importante assinalar que actualmente um número significativo de gaiteiros mirandeses utilizam instrumentos construídos por José Preto a saber: Abílio Topa, Henrique Fernandes ( Lenga-Lenga), Paulo Meirinhos e Paulo Preto ( Galandum Galundaina), o grupo Arco do Bojo. O Museu Internacional de Cornamusas da Escola Provincial de Gaitas da deputacion de Ourense, na Galiza em Espanha, adquiriu um exemplar deste construtor, onde o tem em exposição, como um exemplar da gaita de Trás-os-Montes.

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